O sucesso de The Last of Us ultrapassa o que chamamos de universo dos videogames. O jogo desenvolvido pela Naughty Dog para consoles PlayStation é comentado por todos em todas as mídias. Recentemente as músicas de Gustavo Santaolalla foram parar no BBB – um dos reality shows de maior audiência da TV brasileira e do mundo, exibido pela Rede Globo, e anteriormente Antônio Fagundes rasgou elogios ao game em programa ao vivo da emissora. Lançado há 9 anos, dificilmente há pessoas ligadas à tecnologia que não tenham ouvido falar sobre a obra.
O anúncio de que viraria série de TV e conquistará ainda mais adoradores deixou muitas pessoas com a pulga atrás da orelha. Mesmo que seja produzida pela renomada HBO e os principais responsáveis pela essência dos jogos, ainda há quem não ache ser uma boa ideia.
Em matéria do The Guardian, o cocriador da IP e ex-diretor de games do estúdio da Sony, Bruce Straley, revelou não endossar totalmente a adaptação de The Last of Us de Druckmann e Mazin.
“Anos atrás, costumávamos pensar que fazer um filme sobre um jogo em que trabalhamos era ‘fazer’. Não acho mais isso”, diz. “Nossa indústria provou seu valor e não precisa de outros meios para nos validar… Não tenho problemas com adaptações. Mas na minha – e acho que em toda a nossa – experiência, algo sempre fica aquém da execução… Eu sei muito pouco sobre a produção [de The Last of Us], mas é difícil para mim endossá-la totalmente.”
Isso se deve em parte à diferença entre escrever para jogos e para TV. “Com The Last of Us, eu queria que o jogador sentisse os mesmos sentimentos que Joel e Ellie podem estar sentindo a qualquer momento”, diz Straley. “Isso significava que o jogador tinha que estar 100% lá durante toda a jornada, participando de todos os altos e baixos, reviravoltas e surpresas de sua sobrevivência e alegrias. Eu acreditava que tirar o máximo de história das cutscenes [sequências não interativas] e criar cenas jogáveis nos permitiu criar uma experiência significativamente mais impactante do que eu jamais conseguiria em um programa de TV ou filme. Então, temos que perguntar, o que torna um jogo ótimo? E uma adaptação aumentará a experiência central ou a diminuirá?”
“A coisa mais incrível e mais difícil dos jogos é a interatividade”, diz Straley. “É tão poderoso poder atrair o jogador para um mundo e deixá-lo criar uma experiência própria. Eu realmente acredito que há uma fiação mental diferente, e uma conexão diferente, do que quando nos sentamos na frente de uma TV. Com este poder vem uma tonelada de problemas para os desenvolvedores. É um dos meios mais difíceis de trabalhar, se você se preocupa em contar uma história de qualidade, e se você realmente pensa sobre o que é preciso para fazer uma boa história em um jogo, é muito desconcertante que isso funcione! Mas quando isso acontece, é pura magia.”
“Temos que nos perguntar: qual é o propósito de uma adaptação do jogo para a tela? Não quero a versão menor da experiência do jogo – quero algo que apresente aos novos fãs o que torna esse jogo ótimo.”