A recepção a The Last of Us Part II, gerou uma divisão clara entre os jogadores em 2020. Enquanto alguns demonstraram uma reação intensa e até crítica em relação a certos personagens e decisões da narrativa, outros conseguiram compreender e aceitar as escolhas feitas pela história. Essa polarização evidencia o quanto o enredo provocou sentimentos fortes e diferentes interpretações entre o público. Para muitos, a conexão com a trama foi profunda, o que amplificou as emoções envolvidas.
A morte de Joel na série The Last of Us também repercutiu, como era esperado, dado o impacto do personagem na narrativa e na experiência dos fãs do jogo original. No entanto, o showrunner Craig Mazin revelou ao Collider uma surpresa importante: a maturidade e a forma como os telespectadores não jogadores reagiram à cena foram muito diferentes do que ele imaginava, especialmente em comparação com a reação dos jogadores quando o game foi lançado.
Mazin comentou que, ao contrário do que poderia se esperar — “Não foi: ‘Vamos ficar na frente da HBO e jogar ovos ou culpar Kaitlyn Dever’” —, a reação do público que assistiu à série de forma mais distante foi, em suas palavras: “Odeio a Abby. Kaitlyn Dever deveria ganhar um Emmy.” Essa frase, além de demonstrar o reconhecimento do talento da atriz, evidencia que o público conseguiu absorver o drama e as complexidades dos personagens sem se limitar a um choque infantil ou a uma reação agressiva.
Importante destacar que o showrunner está falando justamente sobre pessoas que não conheciam a história previamente, ou seja, que não jogaram o jogo. Isso implica que o público da série, em sua maioria, conseguiu interpretar e lidar com a trama e seus personagens em um nível emocional e narrativo mais complexo, diferente da experiência mais visceral que muitos jogadores tiveram ao se envolver diretamente com a história no formato original.
Essa percepção de Mazin ajuda a entender o cuidado que a produção teve em construir personagens multifacetados, com emoções contraditórias e motivações humanas, mesmo diante de situações extremas. O showrunner enfatizou em outras partes da entrevista que a série tenta mostrar que “pessoas que estão fazendo coisas horríveis também já foram belas em seu próprio jeito, em suas próprias vidas”. Isso inclui tanto Ellie, Abby, quanto Nora — personagens que, mesmo em conflito, carregam traços de inocência, gentileza e humanidade.
Esse equilíbrio entre o sombrio e o belo, o agressivo e o vulnerável, foi destacado por ele como o que torna a narrativa tão difícil e interessante: “Nós somos sempre uma combinação de amar e odiar, de abraçar e temer, de perdoar e julgar, o tempo todo.” Essa complexidade se reflete nas cenas mais tensas da temporada, como a interação entre Ellie e Nora ou o confronto emocional entre Ellie e Joel na varanda, momentos que, segundo Mazin, foram possíveis graças à entrega visceral dos atores Bella Ramsey e Pedro Pascal.
Além disso, ele comentou sobre a estrutura da série e seus desdobramentos futuros, reforçando que a morte de Joel é uma “bomba nuclear narrativa” que ainda vai influenciar profundamente a trama. A terceira temporada, que deve ser maior que a segunda, não será suficiente para concluir a história, e a expectativa é que haja uma quarta temporada para finalizar os arcos principais.
Finalmente, tranquilizou os fãs quanto ao desenvolvimento das facções e das histórias paralelas, como a do W.L.F. e dos Serafitas, que ainda terão seus mistérios desvendados com o avanço da série. Ele ressaltou que tudo está “pensado cuidadosamente” e que o público verá o que falta conforme a história for avançando.
Em resumo, a reação dos telespectadores não jogadores à morte de Joel revela uma capacidade de lidar com a complexidade emocional da trama de forma mais contida e reflexiva do que Craig Mazin esperava, confirmando que The Last of Us conseguiu transcender o universo dos jogos para se tornar uma obra narrativa robusta e madura para o público geral.