The Last of Us da vida real: Cientistas temem por provável pandemia de um superfungo

Caso no Brasil foi notificado no dia 7 de dezembro de 2020.

Com uma história baseada em um surto do Cordyceps, gênero de fungos ascomicetos reais, que crescem principalmente em insetos e outros artrópodes, The Last of Us da Naughty Dog é uma ficção que apesar de não se tratar de um tema inédito, elevou os jogos pós-apocalípticos a um outro nível. Seguindo o mesmo conceito de focar nas relações humanas, usando a causa de uma pandemia como o pilar da narrativa, o título PlayStation de ação e sobrevivência trouxe popularidade a esse fungo, transferindo essa mutação comumente vistas em formigas na vida real para os humanos no jogo.

Embora isso seja improvável de acontecer, um outro está causando preocupação para a comunidade científica. Descoberto em 2009 na Coreia do Sul, aparecendo mais tarde no Japão, com surtos na Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Reino Unido e na Espanha, o Candida auris, também chamado de Superfungo, tem se espalhado rapidamente pelo mundo e causado temor.

Com risco iminente à saúde global, cientistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, consideram que esse patógeno pode ser o causador de uma possível próxima pandemia, diante da que estamos enfrentando atualmente com o COVID-19. O maior surto ligado ao C. auris ocorreu em 2015 em Londres, com 22 pacientes infectados e outros 28 colonizados.

O micro-organismo pode se desenvolver em vários lugares, incluindo uma ferida aberta, corrente sanguínea ou ouvido, como foi o caso do paciente zero da Coreia do Sul em 2009.

Microrganismos têm evoluído e se tornado mais fortes para conseguirem sobreviver.

Para a epidemiologista Johanna Rhodes, do Imperial College London, que ajudou a combater um surto desse superfungo na Inglaterra em 2016, ela chama atenção para outra característica impressionante. “Uma das coisas que tornam o Candida auris tão assustador é o fato de que ele pode permanecer em superfícies inanimadas por longos períodos e suportar o que quer que você jogue nela”.

Pesquisas já constataram que diversos desinfetantes à base de quartenário de amônio não são capazes de matar o fungo. É por essa e outras razões que os cientistas têm tratado o C. auris como o “patógeno quase perfeito”.

“O C. auris sobrevive em ambientes hospitalares e, portanto, a limpeza é fundamental para o controle. A descoberta (do fungo) pode ser uma questão séria tanto para os pacientes quanto para o hospital, já que o controle pode ser difícil”, explicou a médica Elaine Cloutman-Green, especialista em controle de infecções e professora da University College London (UCL).

Entre os sintomas comuns estão calafrios e febre, que não meloram com antibióticos e são difíceis de identificar, porque geralmente ocorrem em pessoas que já estão com outra doença ou em condição grave e é confundido também com outras infecções fúngicas, como a candidíase comum (doença que pode afetar a pele, unhas e órgãos genitais, relativamente fácil de tratar). Além disso esses sintomas podem variar de acordo com a localização do fungo no corpo. Causando uma infecção grave, que pode ser fatal, principalmente se entrar na corrente sanguínea, são difíceis de ser identificados com métodos de laboratório padrão.

Microrganismos têm evoluído e se tornado mais fortes para conseguirem sobreviver. Uma pandemia desse tipo costuma se espalhar e causar surtos em ambientes hospitalares, o que comparado a crise causada pelo Coronavírus, estamos diante de mais um problema que pode agravar ainda mais o caos de atendimento nos hospitais do país e no mundo.

Em dezembro do ano passado, a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, emitiu um alerta epidemiológico depois da suspeita do primeiro caso do superfungo em território brasileiro, fazendo com que os serviços de saúde e laboratórios de microbiologia passassem a seguir orientações previstas no Comunicado de Risco emitido em 2017 para adotar as ações de prevenção e controle da disseminação desse fungo na América Latina.

Comunicado em PDF

O caso no Brasil foi notificado no dia 7 de dezembro de 2020 em um paciente adulto internado em UTI em hospital do estado da Bahia. O fungo foi identificado após análise realizada em dois laboratórios. A Anvisa relata que o Candid auris representa uma grave ameaça à saúde global.