O futuro de Lev em The Last of Us; O que o ator trans Ian Alexander enfrentou também fora do jogo

Foto: TRACY NGUYEN / Lev - Naughty Dog / Montagem: thelastofus.com.br

Através da jornada de Abby em The Last of Us Part II nos conectamos a Lev, personagem trans de 13 anos que é forçado ao exílio quando sua própria comunidade e religião o rejeitam.

Em entrevista ao Wired, Ian Alexander, que interpreta o personagem no jogo, e Neil Druckmann, diretor, escritor e copresidente da Naughty Dog, falaram sobre o irmão de Yara no futuro da franquia e a identificação do ator com o que foi enfrentado dentro do jogo.

Foi revelado que o estúdio procurou várias agências de talentos em busca de um jovem ator transgênero, bem como organizações como a GLAAD, mas foi Druckmann que, ao assistir a série original da Netflix. The OA, escolheu o ator que fez o papel de Buck Vu, um adolescente trans.

Criado em Utah nos EUA, por pais mórmons rígidos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, Alexander viveu a mesma dificuldade em sua transição. “Eu cresci em um ambiente muito protegido e religioso, então não conheci outras pessoas LGBTQ em que pudesse me ver”, diz ele.

Aos 11 anos, através de jogos como Minecraft e amigos que conheceu online, ele foi capaz de encontrar as palavras que precisava para definir como se sentia e quem era. Onde pôde usar os pronomes certos ele/dele em vez de dizer em voz alta para alguém. “Isso me deu um espaço seguro para cultivar essa confiança e apenas defender a mim mesmo e assumir.”

“Eu tinha 13 anos quando disse aos meus pais que me sentia atraído por mulheres. Eu tinha 14 anos quando disse: ‘Sou trans. Não sou o gênero com o qual nasci. Eu não sou sua filha. Espero que vocês possam me aceitar dessa forma ‘”, continua Alexander. “Eles não aceitaram muito bem, e isso foi algo que realmente moldou quem eu sou até hoje.”

Ele relata que assumir esse papel, fez com que ele extraísse de suas próprias experiências, os traumas que suportou em uma idade tão jovem, tentando descobrir como o mundo funciona e tentando aprender sobre o mundo, sobre as pessoas e sobre a si mesmo.

O diálogo de Abby e Lev sobre os Serafitas o terem chamado pelo “nome morto” foi algo criticado no jogo, mas importante para mostrar como uma discussão sobre o gênero de alguém deveria ser. “A decisão deve ser sempre deles. Eles dão o primeiro passo. É algo que é profundamente pessoal e pode ser muito estimulante para falar ”.

Nos momentos com Abs, Lev sempre foi a voz da razão. Como na travessia de uma série de arranha-céus para contornar os inimigos. Enquanto Abby fica paralisada por seu medo de altura, sua respiração acelera e ela começa a tremer, Lev oferece a ela um pouco de sabedoria.

“Pense nas partes boas do medo”, ele diz suavemente, enquanto segura os controles do elevador e a olha diretamente nos olhos. “Você corre mais rápido, você está mais focado. Você não sente tanta dor. Cada sentimento ruim, suas palmas suando, seu coração acelerado, são todos sinais de que você está realmente mais forte. Então, quando você sentir medo, deve pensar em como seu corpo está se preparando para o que está por vir. ‘Só na fraqueza encontro minha força genuína.’ ”

Alexander levou isso para sua vida. Perto do final de seu trabalho de locução do personagem, ele começou a terapia de reposição hormonal, uma decisão pela qual ele esperava há três anos. Antes de seu aniversário de 18 anos, compartilhou a notícia com seus colegas, que torciam por ele e queriam que ele fosse feliz. “Só de saber que teria um futuro onde seria feliz – foi isso que me impulsionou – saber que começaria com a testosterona meio que me fez seguir em frente.”

“Com cada função que desempenho, com cada entrevista que faço, com cada fã com quem falo, todas essas coisas me ajudam a curar minha autoconfiança”, diz Alexander. “Posso ser uma pessoa trans de sucesso e posso ter uma vida linda e feliz, e eu mereço isso, e não tenho que duvidar de mim mesmo.”

A Naughty Dog sempre cria personagens que, independente do tempo que duram em cena, é o bastante para se tornarem inesquecíveis. O retorno de Lev em uma possível parte 3 não está descartado.

“Eu acho que [Lev] vai encontrar muito daquela família escolhida, de uma forma que pode ajudá-lo a se curar daquela ferida de perder Yara de uma forma tão traumática e perder sua mãe de forma tão traumática e toda a sua comunidade desde a infância. Eu acho que Lev tem um futuro muito brilhante.” almeja o ator.

Já Druckmann revelou há alguns meses que há planos para uma sequência, que escreveu um esboço e espera que o terceiro jogo um dia seja lançado.

Ao Wired ele disse que querem investir no que será empolgante para trabalharem nos próximos três, quatro, talvez cinco anos e que Lev pode ter sua jornada continuada. “Esse é o trabalho que estamos fazendo agora e explorando diferentes ideias. Lev estava em alguns desses brainstorms. Isso é tudo o que posso dizer.” finaliza.