Craig Mazin, showrunner, coprodutor executivo e coescritor da série The Last of Us da HBO, revelou recentemente que boa parte do trabalho de roteiro é feito de forma solitária. Em entrevista à revista SciFiNow, Mazin explicou sua dinâmica de trabalho com Neil Druckmann, cocriador da série e diretor criativo da franquia de videogames da Naughty Dog.
Segundo Mazin, embora ele e Druckmann iniciem o processo criativo em conjunto, traçando a estrutura geral da temporada, o desenvolvimento dos roteiros individuais costuma ser feito por ele sozinho. “Muita da escrita eu acabo fazendo sozinho em uma sala. Gosto de entregar um roteiro ao Neil e dizer: ‘olha, escrevi um episódio completo. Aqui está. Leia isso. Vamos conversar.’ É da minha natureza. Sou muito monástico nesse aspecto”, declarou.
Esse processo colaborativo, mas ao mesmo tempo individualizado, tem sido alvo de atenção, principalmente após a estreia da segunda temporada, que dividiu parte do público. Alguns fãs do jogo The Last of Us Part II criticaram certas mudanças no roteiro da série, especialmente no desenvolvimento da personagem Ellie, interpretada por Bella Ramsey. Entre as reclamações, estão a percepção de que a personagem perdeu sua motivação por vingança e foi retratada de maneira menos estratégica e determinada em comparação com o jogo.
Essas críticas se intensificaram após declarações de Mazin no podcast oficial da série. Ao discutir a contraposição entre Ellie e Abby, ele afirmou: “Se você procurar o diabo, o diabo vai te encontrar. E Abby, ao que parece, não é como a Ellie — no sentido de que Abby é incrivelmente competente.” A fala gerou repercussão negativa entre fãs, que entenderam que Mazin estava diminuindo as capacidades de Ellie. Muitos responderam com trechos do jogo e da primeira temporada da série, apontando momentos em que a personagem demonstrou inteligência, habilidade e coragem. A própria personagem Dina (interpretada por Isabela Merced) chega a brincar com isso na série ao dizer que Ellie “não é burra, apenas com pouco estudo”.
No podcast, Mazin também comentou sobre o estado emocional de Ellie no clímax da temporada. Segundo ele, “todo o desejo que ela tinha de punir, finalmente se foi — pelo menos por enquanto — porque ela já perdeu pessoas demais”. Ele acrescenta que Ellie se culpa pelas mortes de Mel, Jesse e teme perder Tommy ou Dina. Para Mazin, o confronto entre Ellie e Abby não é apenas físico, mas também representa um colapso emocional para a protagonista.
Planos para a conclusão
Ainda na entrevista à SciFiNow, Mazin revelou que ele e Druckmann já têm planejado o final da série, ainda que os detalhes não tenham sido divulgados. “Para saber o que você deve fazer, precisa saber onde quer chegar — e definitivamente precisa saber como as coisas terminam. Nem todo roteirista é assim, mas eu sou. Preciso saber. Para mim, o final é o ponto central. Então, já pensamos tudo cuidadosamente”, afirmou. A terceira temporada está em andamento e deve chegar em 2027.
Quando perguntado sobre a possibilidade de adaptar outros jogos, Mazin respondeu com humor: “Nunca vou fazer isso, é claro, porque de onde você vai depois daqui? Mas, oh, cara, sou tentado a dizer Grand Theft Auto IV, porque sou masoquista e acho que seriam tipo 19 temporadas de TV! Haha.” Ele conclui dizendo que The Last of Us é seu “canto do cisne” no universo dos videogames, embora esteja aberto a ajudar como produtor em outras adaptações.
Com o peso do sucesso e a pressão de lidar com um material tão querido pelos fãs, Mazin parece consciente dos desafios que envolvem adaptar uma narrativa já consolidada em outra mídia. Seu método, por vezes solitário, de escrever os roteiros reflete um comprometimento pessoal com a história — mas também pode explicar parte da distância sentida por alguns fãs entre a série e os jogos originais.